O sofrimento é a grande escola do
aprendizado humano.
Contém verdade a frase atribuída a Hegel:
"o ser humano aprende da história que não aprende nada da história, mas aprende tudo do sofrimento.
Prefiro a formulação de Santo Agostinho
em suas Confissões:
"o ser humano aprende do sofrimento,
mas muito mais do amor".
O amor fati (o amor à realidade crua e nua)
dos antigos e retomado por Freud se impõe
nos dias atuais, quando a humanidade
se vê assolada por uma grave crise de sentido, subjacente à crise econômico-financeira.
Devemos reaprender a amar de forma desinteressada e incondicional a Terra,
todos os seres, especialmente os humanos,
os que sofrem, respeitá-los em suas diferenças
e em suas limitações.
O amor é a força cósmica que
"move o céu e as estrelas" no dizer de Dante.
Só quem ama, transforma e cria.
Os grandes se reúnem, estão confusos e não sabem
exatamente o que fazer.
É que amam mais o dinheiro que a vida.
Se amor houvesse, aprovariam o que está proposto: uma "Declaração Universal do Bem Comum da Humanidade",
base para uma "Nova Ordem Global e Multilateral" contemplando toda a
humanidade, a Terra incluída.
Mas não.
Perplexos, preferem repetir fundamentalmente as fórmulas que não deram certo.
Mesmo assim vejo que se pode tirar algumas lições, úteis para as próximas
crises que estão se anunciando.
A primeira delas é que os governantes, para além de suas diferenças, podem se unir face a um perigo global da insustentabilidade da Terra e dos efeitos
perversos do aquecimento global.
Este trará consigo a iminente crise da água e da insegurança alimentar de milhões
e milhões de pessoas.
Tal situação forçará uma união dos povos
e dos governos, caso queiram sobreviver.
Se grande será o perigo, maior será a chance de salvação, dizia um poeta alemão,
mas desde que ocorra esta união.
A solução virá somente de uma política mundial assentada na cooperação, na solidariedade, na responsabilidade global e no cuidado para com a Terra viva.
A segunda lição é que não podemos mais prolongar o fundamentalismo do mercado,
o pensamento único que arrogantemente anunciava
não haver alternativas à ordem vigente,
como se a história tivesse sido engessada
a seu favor e destruído o princípio da esperança.
Nem podemos mais confiar na mera razão funcional, desvinculada da razão sensível
e cordial, base do mundo das excelências
e dos valores infinitos
(Milton Santos, nosso grande geógrafo)
como o amor, a cooperação, o respeito,
a justiça e outros.
Desta vez, ou elaboramos uma alternativa,
vale dizer, um novo paradigma civilizatório,
com outro modo de produção,
respeitador dos ritmos da natureza
e um novo padrão de consumo solidário
e frugal ou então teremos que aceitar o risco do
desaparecimento de nossa espécie e de uma
grave lesão da biosfera.
A Terra pode continuar sem nós.
Nós não podemos viver sem ela.
A terceira lição é constatar que a economia,
feita eixo estruturador de toda a vida social,
se torna hostil à vida e ao
desenvolvimento integral dos povos.
Ela deve ser reconduzida à sua verdadeira natureza, a de garantir a base material
para a vida e para a sociedade.
Vivemos tempos de grandes decisões
que representam rupturas
instauradoras do novo.
Bem notava Keynes: "a dificuldade não estriba tanto na formulação de novas idéias,
mas no sacudir as velhas".
As velhas se desmoralizaram.
Só nos resta confiar nas novas.
Nelas está um futuro melhor.
Autor: Leonardo Boff