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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Orquídea Cattleya maxima





A Cattleya maxima é uma orquídea de flor grande e monofoliada que ocorre na vertente oeste dos Andes, aquela que dá para o Oceano Pacífico, ocupando uma faixa que começa no sul da Colômbia, atravessa o Equador e chega até o Perú. Existem duas variedades básicas que a meu ver seriam subespécies distintas: as que possuem a parte vegetativa baixa e as que possuem a parte vegetativa alta.

As Cattleya maxima cujas plantas são baixas, são nativas das montanhas e são, portanto, plantas que vegetam em uma altitude que varia de 900 a 1.800 metros acima do nível do mar. A planta dessa variedade se assemelha a uma versão monofoliada de uma Cattleya skinneri ou uma Cattleya guatemalensis.

Os pseudobulbos são curtos e amontoados entre si e as folhas são estreitas e delicadas. As flores se apresentam em média de 4 a 5 por haste e geralmente são de cor escura, como se pode ver nas fotos abaixo que representam um indivíduo dessa variedade.

O cultivo dessa variedade requer temperaturas mais frias, principalmente à noite e condições mais úmidas. Essa variedade é mais cultivada nos países do Hemisfério Norte, onde é mais fácil de se obter em estufas as características climáticas que ela necessita. Já a variedade alta vegeta desde o nível do mar até uma altitude de 600 metros acima dele. Essa variedade gosta de calor, inclusive de noites quentes, cuja temperatura não deve cair abaixo dos 12°C.

A planta dessa variedade é uma versão monofoliada da Cattleya amethystoglossa sendo, portanto, uma planta bem alta e robusta. As folhas que ficam acima dos altos pseudobulbos são similares as de uma cattleya monofoliada típica. Essa variedade alta ocorre nas baixadas litorâneas do Equador, mas pode também ser encontrada no litoral do Perú, só que em áreas muito restritas, já que aquele litoral é quase todo desértico. Essa variedade apresenta em média de 12 a 24 flores por haste em plantas bem adultas e estabelecidas e as flores dessa variedade tendem a ser de coloração mais clara que as das plantas de altitude.

Em cultivo, como eu já disse, essa variedade gosta de calor, necessita mais sol que a variedade baixa e deve ser plantada em vasos mais apertados que o normal. Essa é a variedade mais cultivada no Brasil. As duas variedades florescem bem quando as suas folhas estão na coloração verde alface, embora a variedade de pseudobulbos baixos possa apresentar esporadicamente folhas bronzeadas, o que não acontece na variedade de pseudobulbos altos. As flores dessa cattleya embora não tendo pétalas largas, devido a sua quantidade e ao lindo labelo com a luminosa faixa amarela no centro, formam um belíssimo espetáculo floral. As variedades de cor dessa espécie são as mesmas que as das demais cattleyas monofoliadas, isto é, existem as albas, as caeruleas, as suaves as semi-albas, etc. Essa foi a primeira cattleya a ser descoberta, embora não tenha sido a primeira a ser classificada (a primeira foi a Cattleya labiata).

A Espanha enviou à América do Sul no início do século 19 os botânicos Ruiz e Pavon para investigar as florestas de altitude do Perú e do Equador em busca de dados sobre o quinino. O quinino é um produto antimalária que existe na seiva da Quina, uma árvore de montanha da família das Melastomáceas, do grupo das quaresmeiras e dos manacás. Os dois botânicos citados acima, além de investigar o quinino também coletaram muitas plantas na área, as quais foram enviadas para a Espanha. Nas montanhas do Equador eles coletaram um exemplar de cattleya com flores roxas e enviaram a excicata junto com o resto para a Europa. O material coletado foi mal preservado, tendo sido os seus pseudobulbos cortados logo abaixo das folhas, o que impediu que o pessoal na Europa que manuseou a coleção percebesse de imediato que aquilo se tratava de uma orquídea. Lá ficou estocada a tal orquídea de flores grandes e roxas em um porão escuro, até que a coleção de Ruiz e Pavon foi vendida ao botânico inglês Aylmer Bourke Lambert. Caso essa excicata tivesse sido notada e a planta que ali estava tivesse sido classificada ao chegar, o gênero não se chamaria Cattleya (homenagem a William Cattley, cultivador na casa de quem floresceu a primeira Cattleya a ser descrita, a Cattleya labiata). Lambert ao estudar com mais vagar a coleção recém adquirida, logo notou que aquele material mal preservado era de uma bela orquídea e levou sem demora a excicata a John Lindley, que em 1831 fez a descrição da espécie, dando-lhe o nome de Cattleya maxima (Genera and Species of Orchidaceous Plants, 1831, página 116). Muita gente acha que o nome de espécie “maxima” se refere à altura dos pseudobulbos, mas quero salientar aqui que a planta coletada era um exemplar da variedade baixa e, além disso, por ter sido cortado a 3cm abaixo das folhas, era impossível de ser identificado como alto. Na realidade a flor ali prensada tinha 17.8cm e, portanto, rivalizava em tamanho com a mal cultivada flor da Cattleya labiata já descrita antes pelo próprio Lindley. Além da Cattleya labiata, eram conhecidas apenas as cattleyas: forbesii, intermedia, guttata e loddigesii. As flores da Cattleya maxima poderiam, portanto, ser consideradas grandes se comparadas com essas outras e é essa a razão do seu nome.

Na Europa, as primeiras Cattleya maxima vivas só aparecerem em cultivo em 1842 e eram exemplares da variedade de pseudobulbos baixos. Elas foram trazidas por um coletor de orquídeas de nome Hartweg, a serviço do Horticultural Society of London e foram coletadas nas margens do Rio Grande, perto da cidade de Malacotes no Equador. Essas plantas floriram em 1844 e motivaram Lindley a refazer a descrição da espécie, dessa vez com mais detalhes (Botanical Register 1844). Por alguma estranha razão essas plantas trazidas por Hartweg desapareceram aos poucos das coleções e somente dez anos depois é que novos espécimes foram trazidos e a Cattleya maxima se estabeleceu definitivamente em cultivo, onde segue até hoje entre nós.

Carlos Keller - Rio de Janeiro